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CULTURA

Conheça o maior forte militar português fora da Europa que esta em Rondônia

Equipe do Pelos Brasis este em Costa Marques para conhecer o Forte Príncipe da Beira e fez um belo relato da viagem! Conheça!

Publicado em 20/08/2023 às 13:49
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Olá, viajantes! Nas últimas três colunas estávamos desfrutando das belezas naturais de Mato Grosso e agora atravessamos com nossa kombinha a divisa de Rondônia. Juntos vamos explorar o que nosso estado vizinho tem de opção para quem gosta de viajar de carro. Quem está acostumado a olhar sempre para o litoral nos momentos de lazer pode se surpreender ao reparar o que o oeste brasileiro e a Amazônia, tão pertinho de nós, têm a oferecer. Quer um spoiler? Um dos melhores cafés do Brasil está aqui, assim como produtores locais de cacau e chocolate, além de sabores e belezas amazônicas.

Entramos em Rondônia por Vilhena e já sabíamos que uma parada obrigatória seria no município de Costa Marques, para “fecharmos” a história que contamos na coluna passada, quando visitamos Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital de Mato Grosso. A ligação das duas cidades data do período colonial, quando Vila Bela foi planejada por Portugal estrategicamente na fronteira com o território Espanhol para evitar possível invasão e retomada de território que havia sido ocupado pelos colonizadores do Brasil em desrespeito ao Tratado de Tordesilhas.

Costa Marques pertencia à capitania de Mato Grosso (cuja capital era Vila Bela) e abriga o Real Forte Príncipe da Beira, a maior edificação militar portuguesa construída fora da Europa. Instalado no século 18 às margens do Rio Guaporé, o forte, que depois foi desativado, deu origem à cidade.

A localidade por muito tempo se ligou a Vila Bela pelo Rio Guaporé, cujas águas dividem o que hoje é Brasil e Bolívia, numa viagem que chegava a durar mais de 3 meses. Quando estávamos em Vila Bela, ouvimos falar muito sobre Costa Marques e o Forte Príncipe, principalmente de pessoas mais velhas. A relação, ainda hoje, se faz presente para alguns moradores.

As características da construção do Forte, em pedra canga, lembram as das ruínas da igreja de Vila Bela. A violência da colonização e do processo de escravização também são semelhantes, assim como o posterior abandono por parte da colônia portuguesa. A construção daquelas instalações militares que ainda hoje impressionam pela opulência em ambiente de difícil acesso e inóspito (imagine no século 18!), revelam o tamanho sacrifício humano empregado no empreendimento. Além da mão de obra de africanos escravizados, a metrópole também empregou trabalho forçado aos indígenas do local.  

O acesso ao Forte é gratuito, mas só pode ser feito com guias. Não há necessidade de contato prévio. Ao chegar no local, é possível encontrar esses guias e, após a visita, fazer uma contribuição pelo serviço. O homem que nos atendeu chama-se Angel e é da quinta geração de escravizados do Forte. Ele é quilombola caboclo, fruto da mestiçagem de negros e indígenas característica da região. Essa é outra semelhança semelhante com Vila Bela. Lá também negros e indígenas sobreviveram juntos pós-colonização e escravização, apesar de alguns indígenas das duas regiões terem conseguido permanecerem isolados por mais tempo.

Na região de Costa Marques, viveram mais de 1000 etnias diferentes. O território está incluso no que os colonizadores Europeus classificaram como “Chiquitania”, área habitada por indígenas “Chiquitanos” ou “Chiquitos”, assim rotulados pela baixa estatura. Angel nos conta que comunidades quilombolas resistiram após a coroa portuguesa abandonar o Forte. Foram mais de 300 construções militares construídas ao longo da fronteira brasileira e essa é a maior justamente pelo fato de a área ser a mais isolada e, por isso, mais propícia a possíveis invasões.

Não há registro de uma tentativa de ocupação espanhola, sequer. Os maiores riscos ali foram impostos pela natureza, como a malária, e a violência do processo de colonização, que incluí o trabalho de instalação, o período de atividade do Forte e depois a forma como aquilo foi abandonado. Entre as ruínas, uma área bem preservada é a da masmorra, em que os presos eram colocados para sofrer até a morte. Há mensagens na parede em português arcaico que mantém vivo o sofrimento ali imposto. Também estão no local, dispostos em áreas estratégicas, canhões reais usados na proteção da edificação.

Logo quando chegamos em Costa Marques, andávamos à margem do Rio Guaporé, perto do porto em que há trânsito constante entre Brasil e Bolívia, e encontramos um senhor com traços negros e indígenas que nos chamou para conversar. Ele contou que seu pai veio do Nordeste e se casou com uma indígena boliviana. Fiquei curioso e perguntei se ele se considerava brasileiro ou boliviano. Ele me disse: “sou do Forte”.


Curiosidades

Ainda que desativado, há uma base militar próxima ao forte, o que faz com que seja impedido o sobrevoo de drones por turistas nos escombros do Príncipe da Beira.

Em Costa Marques, a divisa com a Bolívia é atravessada com facilidade por barcos a um custo de R$ 7 por pessoa. Do outro lado, há várias lojas de artigos eletrônicos, importados chineses, roupas e brinquedos. Infelizmente, não há comidas diferentes para experimentar. A única opção de lanche que encontramos disponível era a “empanada brasileira”: nosso bom, velho e comum pastel.

As opções gastronômicas estão disponíveis mesmo no lado brasileiro, com oferta de peixes amazônicos. Encontramos também a chicha, bebida à base de milho, com gengibre, que provamos.

A coluna Pelos Brasis é assinada pelos jornalistas Lucas Bólico e Isabela Mercuri. Acompanhe o projeto no Instagram, TikTok, Youtube e Spotfy

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